segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Alunos convivem com armas e tráfico em escola na divisa com Goiás

Líder comunitário diz que recebe ameaças de policiais e de bandidos.
Em Valparaíso, policial foi marcado para morrer com cruz pintada em árvore.

Do G1 DF
Em uma escola do Gama, no Distrito Federal, estudantes dizem conviver com bandidos armados e tráfico de drogas. A escola fica em uma rua que marca a divisa entre o DF e a cidade do Novo Gama, em Goiás.
No Dia do Estudante, celebrado na última quinta-feira (11), os alunos se divertiam numa comemoração quando foram interrompidos pela presença de bandidos armados na escola. No dia anterior, 15 alunos da mesma escola tinham ficado sob a mira da arma de um ladrão que sequestrou uma van escolar.

Cansados da violência, estudantes e professores foram à Câmara Legislativa do Distrito Federal no último dia 12 participar de uma audiência pública que discutiu a segurança no Entorno. Levaram faixas e se queixaram dos problemas da escola.
Você anda na rua e trabalha com medo. Você vive como se estivesse numa selva com animais ferozes e ninguém que você chama te protege"
Adriana Pereira, comerciante no Jardim Ingá, em Luziânia
“Mais Entorno que aqui, impossível. Nossos alunos são todos de Goiás”, disse a professora Maria de Fátima. Na audiência, a professora fez um apelo por mais segurança, antes que a situação piore. “Não houve vítimas fatais. Ainda", afirmou.
Maria de Fátima disse ao G1 que um aluno já foi sido esfaqueado na porta do colégio e que, na saída, é comum traficantes oferecem drogas a adolescentes.

Num final de tarde em Luziânia, a reportagem foi a um colégio no bairro Parque Estrela D’Alva e encontrou vários adolescentes sem uniforme junto que entravam livremente na escola.
Um grupo de meninas do 8º ano do ensino fundamental reclamou que os rapazes as assediavam. “Eles ficam aqui todos os dias e entram na escola inclusive no horário de aula”, disse uma aluna. “Não me sinto nem pouco segura”, afirmou outra menina.
Em março, uma adolescente de 17 anos sumiu ao sair da escola do bairro Parque Estrela D’Alva II. Ela foi violentada e encontrada morta um dia depois. O caso chocou a cidade. Segundo a agente da Delegacia da Mulher de Luziânia, Deusa Moreno, a investigação da polícia mostrou que três dos suspeitos pelo crime costumavam ficar na porta do colégio.
Marcados para morrer
Um líder comunitário que atua na recuperação de ex-presidiários e usuários de drogas em uma das cidades do Entorno do Distrito Federal disse que vive entre ameaças de bandidos e de policiais. Ele afirmou que já perdeu a conta de quantas vezes foi ameaçado de morte.

Para preservar sua segurança, ele pediu ao G1 que fosse identificado apenas como Manoel e que a cidade onde mora não fosse citada na reportagem.
Cruz pintada em árvore em frente a entidade comunitária em Valparaíso, indicando, segundo o presidente do sindicato de policiais, Silveira Alves, que ele estaria marcado para morrer (Foto: Naiara Leão/G1)Cruz pintada em árvore em frente a entidade comunitária em Valparaíso, indicando, segundo o presidente do sindicato de policiais, Silveira Alves, que ele estaria marcado para morrer (Foto: Naiara Leão/G1)
Ele conta que há alguns meses, um policial investigado em um caso de corrupção apontou uma arma para a cabeça dele para saber quem o havia denunciado. “Eu sabia quem era, mas não disse. Imagina se vou colocar a vida de uma pessoa em risco”, conta Manoel.

A história de Manoel não é única no Entorno. Em Valparaíso, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás, Silveira Alves, diz ter sido literalmente marcado para morrer. Há alguns meses, duas cruzes foram pintadas na porta de uma associação social e cultural que ele frequenta.
Eles agem sem cobrir o rosto, assaltam à luz do dia, andam no meio da cidade. A única segurança no Entorno é segurança da impunidade"
Silveira Alves, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Goiás
“Avisaram que uma era para mim e a outra para o dirigente da associação. Constantemente tenho sofrido ameaças, mas no ponto em que cheguei não posso recuar e não posso ter medo”, diz. Ele atua há 22 anos na Polícia Civil de Goiás.

Silveira afirma que as ameaças são comuns na região do Entorno. “As pessoas pedem proteção judicial, mas não há efetivo para isso”, diz. Por causa da falta de ação policial, as pessoas se sentem desprotegidas e com medo, afirma. É o caso da comerciante Adriana Pereira.

Ela tem uma loja de celulares e uma vidraçaria no Jardim Ingá, em Luziânia, e sofreu dois assaltos e teve as lojas arrombadas duas vezes nos últimos quatro anos. Em abril deste ano, o marido dela foi roubado por bandidos.

Dias depois, ele reconheceu um dos assaltantes na rua. O ladrão também o reconheceu e fugiu. Após dois dias, na garupa de uma moto, o ladrão atirou três vezes contra o marido de Adriana enquanto ele dirigia. Dois tiros acertaram o rosto dele. Atualmente, ele usa uma prótese no lugar do queixo e tem uma bala alojada próximo à garganta.
Estudantes em frente a portão de escola no Gama, no Distrito Federal, na divisa com Goiás (Foto: Naiara Leão/G1)Jovens em frente a portão de escola no Gama, no
DF, na divisa com Goiás (Foto: Naiara Leão/G1)
Sabendo o nome e o endereço do criminoso, o casal o denunciou à polícia. Mas, segundo Adriana, os policiais alegaram que, sem provas, ele logo seria solto e poderia se vingar. Eles desistiram da denúncia, mas passaram a viver com medo. “A própria Justiça recusou a gente”, diz Adriana.

Há algumas semanas, o casal descobriu pela televisão que o bandido foi preso em Brasília por furto de veículos. Sem saber se ele continua preso, eles permanecem alerta. “Você anda na rua e trabalha com medo. Você vive como se estivesse numa selva com animais ferozes e ninguém que você chama te protege”, diz Adriana.

Para Alves, o contraponto do medo da população é a certeza de impunidade dos bandidos. “Eles agem sem cobrir o rosto, assaltam à luz do dia, andam no meio da cidade. A única segurança no Entorno é segurança da impunidade”.

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