Após ser declarado morto, bebê chora em funerária

Marcelo Portela - O Estado de S.Paulo

BELO HORIZONTE
Após ser considerado morto e chorar na funerária, um bebê prematuro que nasceu na Santa Casa de Misericórdia de Araxá (MG)morreu ontem em Uberaba, onde estava internado. A polícia abriu inquérito e a família da criança, que seria batizada como Luana, informou ao Estado que processará a Santa Casa.
O imbróglio começou anteontem, quando a mãe da criança, de 14 anos, passou mal e foi ao hospital. Um tio de Luana, o ajudante de pedreiro Fabson Silva, conta que "foi um custo" para que a jovem fosse atendida. Segundo Fabson, ela estava com pouco mais de seis meses de gestação. "Tinha muita gente e pouco médico. A bolsa dela estourou no hospital. Só depois que ameaçamos processar o hospital ela foi atendida", afirmou.
A adolescente teve parto normal, mas foi informada de que a criança havia morrido. Segundo Fabson, além da médica responsável pelo parto, uma pediatra teria confirmado a morte do bebê, levado à Funerária São José.
O agente funerário João Alves Pereira contou que a criança chegou em uma "caixinha", enrolada em gaze, e que a viu se mexer. "Chamei um colega para ter certeza de que eu que estava vendo coisas. Aí ela chorou. Foi uma cena muito forte, que nunca tinha visto." Ele diz ter ligado para a Santa Casa para informar que "tinham mandado uma criança viva" e contou o acontecido aos parentes. A criança chegou ao hospital com dificuldade de respirar e, como não há Centro de Tratamento Intensivo (CTI) neonatal, foi transferida para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba. Durante a madrugada, teve falência múltipla de órgãos.
Para a família, a demora no atendimento pode ter causado a morte. "Ela ficou umas três horas em uma caixa de papelão enquanto a funerária não chegava", ressaltou Fabson Silva.
Em nota enviada por sua assessoria jurídica, a Santa Casa informou que está "averiguando os fatos", mas que, pelo que foi apurado até o momento, "nenhum erro foi cometido". "O parto foi assistido por profissionais experientes e altamente capacitados. No pós-parto não foi diferente. Em suma, a equipe médica utilizou toda técnica existente", afirma a nota. O corpo foi submetido a autópsia no Instituto Médico-Legal (IML) de Uberaba e enterrado ontem.